Ceia do Senhor a Mais Alta Celebração da Igreja e da Vida Cristã. Evangelho Segundo João Capítulos 6 e 13
A
Ceia do Senhor ao mesmo tempo que é um assunto tão corriqueiro da
vida da igreja, não deixa de ser, um dos assuntos mais ignorados
pela maioria dos cristãos. Longe de figurar como um tema teológico
importante, digno de ser tratado em nossos arraiais, fica a maioria
das vezes circunscrito à uns breves momentos de celebração uma vez
por mês, na maioria das igrejas. Ninguém duvida porém, que a Ceia
do Senhor deveria ser melhor estudada e melhor compreendida, uma vez
que o seu alvo principal, a comunhão, frequentemente é
quebrada, ou não alcançada. Existem ainda aquelas compreensões a
respeito da Ceia, que já percebemos na prática e à luz do Texto
Sagrado, estarem equivocas. A principal delas, aquela que faz a Ceia
do Senhor parecer um ritual onde, aqueles que participam serão
contemplados com algum tipo de força, benefício..., Graça, para
usar o termo teológico correto. Não há nada mais nocivo para a
vida cristã do que isto.
A
natureza simbólica da Ceia do Senhor precisa ser compreendia. Os
interlocutores de Jesus queriam sinais, queriam estatísticas,
números, traduzindo eles desejavam Jesus apenas enquanto pudesse
realizar coisas, favores, como na multiplicação dos pães, e ainda
comparando Jesus a Moisés. Trata-se de uma verdadeira agressão ao
texto do evangelho, tentar encaixar o discurso do Pão da Vida, em
categorias da Teologia Sistemática pura e simplesmente, conquanto
estas sejam relevantes e necessárias. Antes disso temos de nos
submeter ao texto, naquilo que ele possui de mais precioso, a sua
natureza simbólica, justamente o que lhe confere tanta força. Ao se
pronunciar diante de seus discípulos e opositores, as palavras do
mestre causam perplexidade. "55-Pois minha carne é a
verdadeira comida, e meu sangue é a verdadeira bebida. 56. Quem come
minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele." Isto
porque tomar este texto em qualquer outro sentido não tem nenhuma
lógica, nenhum sentido. A palavra símbolo vem da palavra grega
symballo, que em sentido literal seria, unir
com força. A Ceia é um símbolo, e como tal, trata-se de uma
realidade carregada de sentido da qual não conseguimos falar de modo
concreto, mas que aponta para algo verdadeiro, algo tão forte, tão
importante, que foi necessária uma representação simbólica. É
debaixo deste símbolo que se unem os cristãos, os seguidores de
Cristo. Por isso Jesus em seu discurso recorre a imagens simbólicas,
que Ele sabia muito bem qual impacto causaria em seus ouvintes: pão,
vinho, carne, sangue... na próxima Páscoa o cordeiro seria Ele
próprio. Não haveria como entender nada diferente disto. O relato
de João deixa claro duas reações, daqueles que não
entenderam, e daqueles que entenderam o sentido do que Jesus estava
pregando. No verso 52 os Judeus dizem"...Como pode esse
homem nos dar sua carne para comer?...". Este é um
sinal claro de que havia um horizonte de cegueira espiritual, de tal
modo que não conseguiam ter compreensão. É demais para alguém que
está olhando apenas para os sinais, para o transitório, para o
concreto. Conseguir enxergar além e chegar ao entendimento
espiritual, Jesus tinha começado a falar em uma outra frequência,
falava das realidades eternas transcendestes. "as palavras
que eu lhes disse são espírito e vida." Quando estamos
debaixo de uma limitação de compreensão, não conseguimos conceber
qualquer outro tipo revelação. Um dos maiores desafios da
experiência humana é sair, (romper) com a literalidade, com a letra
morta. Esta é uma ponte que o ser humano só cruza quando finalmente
se rende e dá as mãos ao Espírito Santo para que este o convença,
o guie. "Somente o Espírito dá vida. A natureza humana não
realiza coisa alguma.".
A
Ceia do Senhor é uma cerimônia de compromisso. Os discípulos
de Jesus que entenderam o que ele estava dizendo, não ficaram em
situação mais confortável do que os seus opositores, justamente
porque entenderam, que ironia. Nós sabemos que eles entenderam pela
resposta que deram:"Sua mensagem é dura. Quem é capaz de
aceitá-la?(v. 60)" é aqui que muita gente dá meia
volta. Muito embora ninguém será impedido de ser membro de uma
organização (igreja), tendo confessado publicamente que crê em
seus princípios de fé. Todo cristão verdadeiro luta consigo mesmo,
diante da compreensão do que este momento de confissão significa.
Ou seja, aqui importa muito pouco, o nome em uma lista, ou possuir
uma carteirinha de membro. O que está em jogo é ter a natureza de
Cristo, mais do que isto, é perseguir ter Cristo dentro de nós.
Este é o alvo para onde a Ceia aponta a identificação
mística com Cristo, com o noivo. Isto é tão grave que dá
vontade não escrever. "Eu vivo por causa do Pai, que vive
e me enviou; da mesma forma, quem se alimenta de mim viverá por
minha causa. V 57". O escândalo de tais declarações
já era de se esperar, uma vez que Jesus disse tudo isso enquanto
ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Deveria escandalizar a nós também
ditos evangélicos, porque o verdadeiro sentido é precisamente este,
o de um compromisso existencial profundo, uma união da natureza
humana com a natureza de Deus de modo que um cristão,
obrigatoriamente devesse ser o resultado do seu alimento, não o pão,
é claro; mas Cristo! Daí a perplexidade dos ouvintes de Jesus,
daqueles que o entenderam. Estamos mesmo dispostos a encarar uma
proposta tão radical como esta. Este é o momento no Evangelho de
João onde fica claro que vida Cristã não é informação, é
realidade de ação, comprometimento, submissão da vontade,
entrega..., sobre tudo entrega.
A
Ceia do Senhor aponta para uma realidade, que por sinal é a
única que importa. A comunhão! Sem comunhão a igreja
simplesmente não pode subsistir, e mais uma vez, vale lembrar que
não estamos falando da organização. Igreja é o grupo de
seguidores de Cristo, onde é possível o fluir, a atuação, e
definitivamente o controle do Espírito Santo. O discurso de
João 6, é uma exposição teológico existencial que está
projetada sobre a cena do Jantar que está narrado no capítulo 13.
Um jantar íntimo com pessoas que já caminhavam algum tempo juntas,
e alguém que pretendia derramar o coração diante deles, Jesus. O
que é comunhão? Essa é a pergunta por excelência a ser feita.
Será que de fato compreendemos o que quer dizer isto? Obviamente
comunhão tem muito pouco, ou nada a ver com encontros sociais, muito
embora estes sejam importantes e até saudáveis. Porém a comunhão
se verifica no Coração, A final a boca pode disfarçar a realidade.
“Quem odeia, disfarça as suas intenções
com os lábios, mas no coração abriga a falsidade. ” (Pv 26.24).
A comunhão é base relacional sobre a qual é revelado o bem mais
precioso da vida em Cristo. Sem comunhão verdadeira, profunda, a
igreja não passa de uma organização como qualquer outra. A
comunhão
verdadeira é resultado direto da identificação com Cristo, e o
domínio doce da sua vontade em nós.
Por mais romântico
que isto possa parecer, não é nada fácil alcançar tal realidade
de vida. Não é sem motivos que esta é a formulação que se
consolida na vida da igreja, sob forma de bênção: “A graça do
Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo sejam com todos vós.” II Co
13.14 (13.13).
Creio que o apóstolo Paulo
entendia muito bem o valor imprescindível para a comunhão. Ele
mesmo foi alvo de controvérsias em alguns dos momentos decisivos de
em seu ministério, em a comunhão estava sob ameaça, como em Atos
15, e o relato da carta aos Gálatas nos demonstram. Como crentes
deveríamos perseguir a comunhão verdadeira mais que tudo.
(Filipenses 2.1-3).
A
Ceia do Senhor nos ensina um parâmetro para a realização da
vida da igreja e do cristão. Durante o jantar Jesus faz algo
inesperado, e lava os pés dos discípulos, isso marcou os corações
deles, e se tornou princípio para a igreja. A humildade é a
qualidade sem a qual, não pode haver mais nada. Porque se o
orgulho encontra lugar na vida de um discípulo, Satanás já entrou
nele, não importa se Pedro ou Judas. Não importam os títulos, as
posições. Somente a humildade, sobremodo exaltada no livro de
Provérbios, pode nos prevenir de sermos tomados por Satanás, porque
ele é a antítese deste sentimento, desta essência, desta natureza.
Foi ele quem quis subir, se elevar (Isaías 14, Ezequiel 28,). Jesus
ao contrário desce, se esvazia, se entrega. Há uma expressão muito
bonita no texto grego em Filipenses, kenoo que quer dizer
esvaziar-se. Yeshua é o homem da humildade. Um discípulo,
que toma para si as escrituras sagradas como base de sua fé, não
encontrará um texto sequer que lhe de base para sustentar qualquer
sentimento de orgulho humano, ao contrário, devemos nos alegrar em
experimentar as afrontas, os preconceitos, por honrar o nome de Jesus
Cristo. Somente através da humildade sustentaremos a comunhão.
Manter um coração puro, simples e humilde é tarefa para
toda a vida.
A
Ceia do Senhor nos revela o
amor
que é, como foi dito acima, o bem mais precioso, é a essência de
tudo que é cristão por natureza, ou seja, sem amor não somos nada.
E isto é levado a sério na Bíblia, o famoso hino composto pelo
apóstolo Paulo sentencia ao final: “Três
coisas, na verdade, permanecerão: a fé, a esperança e o amor, e
a maior delas é o amor.”
(I Co 13.13). A
Ceia do Senhor é corretamente associada à lembrança do sacrifício
de Jesus na cruz por nós, mais isso não é tudo. Na Ceia recebemos
um mandamento, um princípio: “Por
isso, agora eu lhes dou um novo mandamento: Amem uns aos outros.
Assim como eu os amei, vocês devem amar uns aos outros.” (Jo
13. 34,35).
Mais do que uma ordem, essa foi uma revelação,
dada
aos discípulos mais próximos no momento de maior intimidade solene,
a Ceia da
Páscoa.
É importante notar que a revelação só foi emitida depois que
Judas havia se retirado. Se
a nossa comunhão não estiver
no ajuste
perfeito
não há revelação de alto
impacto.
Essa
é a revelação que iria mudar a história
da vida daqueles
discípulos. Em tempos
em que igreja parece mas um mero reflexo dos desejos humanos, parece
não importar
muio se há ou não, essência verdadeira das coisas fluindo na
comunidade. No caso daqueles primeiros seguidores de Jesus, eles
precisavam sobreviver a udo; perseguições, preconceitos,
ameaças de todo
o tipo.
Tudo
isto
não era mais sério do que a própria experiência, de cair num
vácuo religioso. Sem amor o Cristão
não tem
vida, é só mais um religioso na multidão.
Sem amor eles jamais saberiam que Jesus está
vivo. O amor é o maior dos princípios, como lemos, por isso odo o
restante
depende do amor. Esta
foi a chave que Jesus enregou para os discípulos naquela noite.
O amor é a base do
avivamento.
“Seu
amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos.”(Jo
13.35). Nunca
uma frase tão
simples teve
tanto
poder quanto
essa. A forma de viver da igreja prova ao mundo quem nós somos. Que
a nossa vida seja inundada de verdade por esse amor. Que o poder de
Deus seja manifesto
em nós em primeiríssimo lugar através
do amor! Este
é o sentido
da Ceia do Senhor e o fundamento
do Sucesso da igreja.
χάρις
υμίν και ειρήνη
Graça
e Paz
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