Pular para o conteúdo principal

E se “Essa gente incômoda” fosse aplicado no vestibular?


Com a poeira baixando, mas ainda em tempo, resolvi escrever algo sobre o famigerado artigo publicado na edição 2550 da revista Veja de 04 de outubro escrito por J. R. Guzzo. A ideia é tentar trazer algum esclarecimento, tarefa que outros também já empreenderam. Assisti alguns vídeos, li outros artigos (a esmagadora maioria em protesto), conversei com pessoas... Toda vez que leio um texto me pergunto logo a seguir: eu entendi o que o texto quis dizer? Antes de considerar o artigo vale dizer que existe toda uma discussão teórica a respeito da interpretação de qualquer texto, e autores que vão de Wittgenstein à Eco, que tratam profundamente sobre o tema. Penso que aqui não seja o caso, devido à proximidade de contexto que os leitores possuem em relação ao texto. Resumindo, basta ler. O famigerado texto, repito, faz referência as querelas recentes em torno da exposição de crianças à uma ‘“arte incomoda”’. Também não cabe discutir se o autor realmente pensa de forma equivalente ao que escreveu, muito embora isto implique diretamente na produção de qualquer coisa que seja. Passemos ao texto. Guzzo lança mão do recurso da Ironia, se assim o fez, como parece, ele quer dizer o contrário do que escreveu, é exatamente isto que uma ironia pretende. Então a referência à uma “gente de bem” indica que toda a fala a seguir está em um contexto ironizado. Outra referência que também deu muito o que falar, um pouco mais rebuscada, é a citação do “tipo moreno”. Para além das questões raciais, totalmente legítimas, o autor ao que tudo indica está citando Gilberto Freyre, e se for isto, trata-se do capítulo III de Casa Grade e Senzala, onde se trata justamente da diversidade na formação “racial” de Portugal. Desta forma é mantido o contexto de ironia com o restante da fala. Em um outro ponto do texto o autor sai da ironia e faz a sua crítica, esta sim, direta. Não se trata aqui de defender o autor ou o veículo, porém mais uma vez, entender o que está escrito. Podemos discordar das críticas feitas pelo autor, embora não sejam infundadas. Podemos discordar do tom, podemos até perguntar se o autor é preconceituoso ou não? O que não podemos é dizer uma coisa que o texto não disse, que a priori o autor não quis dizer. O texto não é racista, o texto não é contra os evangélicos, o texto confere com a verdade quando diz que: “bem que gostariam que eles (nós evangélicos) sumissem por contra própria”, referindo-se ao pensamento das elites. E por fim o autor expressa sua opinião direta quando reflete que os valores defendidos pelos evangélicos, em sua opinião, são preconceitos. Com relação a outras questões levantadas pelo autor, concordo em primeira pessoa que, não seja a melhor opção uma solução proposta pelo Estado, afinal o Estado é laico. Talvez tenha escapado ao autor do artigo somente uma questão; a despeito de nossas opiniões, existe sim, uma quantidade grande de pessoas cansadas de sua opção sexual, de seus vícios, de suas patologias, cansados da sociedade, e até da vida. Para estes o convite do inspirador maior desta fé evangélica, ainda faz muito sentido: “Venham a mim todos os que estão cansados” (Mt 11.15). Ditas estas breves palavras, fica a pergunta e se fosse o vestibular? Se não formos capazes de entender um texto simples, como este de J. R. Guzzo, corremos o risco de, deixar de ser esta gente incômoda.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PALAVRAS DO ALTO

Provérbios 19.11 A sabedoria do homem lhe dá paciência; sua glória é ignorar as ofensas.   Eu chego até mesmo achar engraçado quando leio textos como estes na Bíblia. É como se Deus estivesse nos provocando a uma reflexão de nível mais profundo. Eu sempre pensei a respeito do que diz este versículo de uma maneira muito diferente do que está aqui. Para mim; não responder uma ofensa à altura seria sinal de fraqueza. Para minha surpresa há uma direção diferente dada por Deus. O apelo do Eterno em nossa direção é nos dirigirmos pela Sabedoria, aliás esta é toda a tônica do livro de Provérbios. Pessoas que possuem sabedoria não agem de maneira convencional. Acredito seriamente que Deus tem mesmo esta expectativa a nosso respeito, ele deseja que sejamos pessoas sábias. Neste contexto direto a sabedoria tem por companheira a paciência. Diante dos desafios que precisamos enfrentar todos os dias, a pergunta a ser feita é se somos pacientes e agimos de maneira equilibrada, sem que isto nos...

PALAVRAS DO ALTO

Provérbios 1,32-33 "Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá; mas quem me ouvir viverá em segurança e estará tranqüilo, sem temer nenhum mal."   A inconstância é com certeza uma das maiores dificuldades com a qual todo ser humano precisa aprender a lidar em sua vida. Alguém já disse que um hábito leva pelo menos 21 dias para ser integrado à nossa rotina. Creio que nosso texto trata de uma questão mais profunda, o estado de espírito daquele que não teme ao Senhor e, portanto é inexperiente. O tempo nem sempre nos ajuda, a questão é muito mais espiritual do que qualquer outra coisa. É possível existirem pessoas que estão em idade avançada, porém são tolas, estão firmadas na falsa segurança da experiência própria, das riquezas, da cultura. Nada disso é ruim em si, mas é fato que nenhuma destas coisas traz ao homem segurança e tranquilidade reais, como o texto deixa bem claro, é uma falsa segurança. Que o Eterno nos de graç...

PALAVRAS DO ALTO

Provérbios 16.6 "Com amor e fidelidade se faz expiação pelo pecado; com o temor do SENHOR o homem evita o mal." Esta é uma outra vertente do pensamento sobre a expiação, (absolvição, perdão de pecados). Já dissemos antes que o livro de Provérbios é um livro de sabedoria. Nós temos o entendimento de que "sem derramamento de sangue não há perdão". A idéia aqui não é contrária a este ensino, mas a complementa. Yeshua o nosso Machia, já ofereceu o sacrifício dos sacrifícios, o sacrifício último. Debaixo desta compreensão eu entendo que a única coisa que eu posso e devo fazer, é dar uma resposta de amor e fidelidade. Ao longo da caminhada nós passamos lutas, e às vezes também colhemos o fruto dos nossos erros (pecados). Mas agora somos santos e vamos andar com o Senhor das nossas almas, expressando nosso amor a Ele e manifestando a nossa fidelidade. Essa é a nossa vocação, a nossa chamada! O eterno já apagou o meu pecado a minha falha, já cancelou o "meu escrito de ...