Ao cruzar esta linha me pergunto se é pouso, ou se é decolagem? É melhor pra mim que seja decolagem ao invés de pouso. Se for pouso é chegada, se for decolagem é partida... É sem dúvida um tempo de mudança de estação, chegar aos quarenta é algo emblemático, afinal, nunca antes na história da minha vida eu fiz quarenta anos. Se eu pensar que chegarei aos 80 será a metade da minha vida, se for menos que isso não quero pensar nisso agora... Se é verdade que a vida começa aos quarenta, então estou começando. Como eu tenho que agradecer por tudo que eu já fiz, por todas as pessoas que já fizeram por mim, e por tudo que eu ainda tenho a possibilidade de fazer! Cheguei aos quarenta, ainda não plantei nenhuma árvore, já tive duas filhas, na verdade a mãe teve, mas eu me incluo no processo produtivo, com certeza! Os livros... os livros são um caso à parte, essa é a parte, dos partos pelos quais eu ainda pretendo passar. Voltando às possibilidades, como é incomensurável a possibilidade, porque é a celebração da vida dada por Deus, na soma dos dias que vão passando como um rio, um privilégio! Cada suspiro faz sentir o espírito ainda presente na alma viva, dentro do corpo em contínuo movimento.
Nunca mais farei quarenta anos. Algumas coisas, como os cabelos, por exemplo, foram embora; outras, aguardo ansiosamente que cheguem. É uma maturidade diferente dos trinta, algumas coisas não farei mais, já outras persigo firmemente fazê-las antes dos cinquenta. Penso que não é ainda uma curva, eu penso mais que estou numa linha de subida, ainda do lado de cá da subida, não cheguei ao cume do monte. Interessante... salvo os montanhistas, não existe um curso de subir montanha, não existe uma escola que ensina como se passa pela vida, só se aprende a viver, vivendo, muito óbvio. Minha alegria aos quarenta, mais do que as conquistas, são as coisas que eu já consegui aprender, já sei quais são e onde estão as ferramentas que me levaram ao topo da montanha. Eu não pretendo, obviamente, como diria um grande amigo meu, descer do outro lado, nem muito menos ficar no topo. Num outro momento eu falo sobre isso. Como bem disse, aos quarenta já conquistei metade das coisas que desejo, já dei minha contribuição para manter a espécie no planeta e povoar o céu. A outra metade das coisas que eu pretendo fazer até os oitenta, bem... creio que será uma tarefa interessante no mínimo, para não dizer hercúlea. É! Viver, definitivamente, apesar de não ser fácil, é empolgante. Como não dá para prever resultados, o ideal é seguir a lógica simples do "vence quem está mais preparado". Não se trata de um jogo ou de uma guerra, até porque não se deve jamais jogar com a vida, este é o tipo de coisa que sempre dá errado. O que eu aprendi até aqui é que, para viver e viver bem, você precisa de três coisas: o livro certo, a companhia certa, e o destino certo.
O livro certo, a Bíblia: não conheço melhor livro do que a Bíblia, para dar destinos, para fortalecer o espírito e encorajar os homens. A companhia certa fica por conta das amizades, dos amores, dos grandes afetos... Aprendi algo interessante antes dos quarenta, que estou levando comigo, enquanto subo a montanha. Quem não gosta de você, não passará a gostar por nada que você faça; e quem gosta de você, continuará gostando independente do que você faça. Outra lição: não seja intransigente, senão você perderá companheiros importantes na caminhada. É bom ficar sozinho às vezes, não ter companheiros de escalada é algo mortal. Escolha é a palavra certa. Escolha bem suas companhias, no caso de todas as suas possíveis companhias falharem, Deus ainda estará com você. Ironicamente será sua melhor companhia. Não vou entrar no mérito, mas não aconselho a ninguém prescindir da companhia de Deus. Por último e igualmente importante, saiba para aonde está indo. Tudo na natureza se move com um destino determinado. Os pássaros, as marés, os peixes, os planetas, os rios, onde houver natureza haverá um destino. O único ser em todo o ecossistema, até onde sabemos, que goza do privilégio da intuição, de olhar adiante e perceber a noção de futuro, de ansiar um lugar de chegada é o ser humano, muitos já disseram, aliás, que deveríamos viver de modo a fazer jus ao epitáfio desejado. Ora, então por que raios você não teria um plano de voo? Traduzindo: sonhe! Outra dica importante: seja humilde diante vida e das pessoas, busque a sintonia (συντανύω). Afinal, fazer quarenta não é chegada, mas sim, partida...
C. A. Soares, Rev.
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